segunda-feira, 1 de abril de 2013

Roberto Freire: Desmoralização do Enem e educação em frangalhos




Tão habituado a apontar o que chama de “herança maldita” dos governos anteriores, como se o país tivesse sido descoberto no primeiro ano da gestão Lula, o PT é responsável por deixar um rastro indelével de incompetência na área da educação, cuja faceta mais visível é a sucessão de episódios que desmoralizam o Exame Nacional do Ensino Médio. Após as fraudes que marcaram o Enem sob a batuta do ex-ministro Fernando Haddad, ainda no governo Lula, o escândalo da vez, revelado pelo jornal “O Globo”, escancara a precariedade da correção das provas e o estado de calamidade em que se encontra o ensino no país.


Entre as pérolas existentes em algumas das redações que receberam nota máxima na edição de 2012 do exame, estão erros clamorosos de ortografia, concordância verbal, acentuação e pontuação. Também vieram à tona dissertações nas quais aparecem receitas de miojo e até hino de time de futebol. Sabendo que a correção da prova era relapsa, os autores foram agraciados com notas que ultrapassam a metade da pontuação total.


A absoluta degradação do Enem, que perdeu credibilidade após tantos escândalos e hoje virou alvo de galhofas dos próprios estudantes que dele participam, é resultado da inoperância do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nos governos Lula e Dilma. Aliás, é um desrespeito pela memória de Anísio Teixeira, um dos grandes educadores brasileiros, o fato de ter seu nome ligado, mesmo que indiretamente, à tamanha incompetência.


A correção precária das provas daquele que é trombeteado pelo governo como um dos mais respeitados exames do mundo é responsabilidade justamente do MEC e do Inep, que chegam ao despropósito de orientar os examinadores a não ser rigorosos. Quem diz isso é uma das próprias avaliadoras da prova, que contou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que cada um desses profissionais tem de ler e dar nota a mais de 3 mil redações em um único mês.


Segundo essa professora de língua portuguesa, os avaliadores não podem zerar os textos, a não ser em casos extremos, e devem se esforçar para manter as redações dentro das notas mínimas, evitando reprovações em massa. Se não procederem desta forma, correm o risco de ser excluídos do processo de correção. O que se tem, portanto, é quase um sistema baseado no fordismo, na produção em massa: não existe qualquer preocupação com o que se está avaliando, muito menos tempo hábil para que os examinadores se debrucem adequadamente sobre as provas que corrigem.


A receita de miojo ou os erros crassos de português nas redações do Enem são mero reflexo do descompromisso do governo do PT com a educação. A absoluta incompetência do ministro Aloizio Mercadante e da presidente Dilma Rousseff na condução de um setor primordial para o futuro do país certamente trará consequências danosas para muitas gerações, motivo pelo qual talvez precisemos de décadas a fio para superar o atraso imposto pelo lulopetismo nesta área. A desmoralização total do Enem é só o retrato mais visível do caos educacional instalado no Brasil nesses últimos anos.


*Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS.

Fonte:Portal PPS

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